Balneário Camboriú tem ganhado destaque como um dos principais polos de construção e investimento imobiliário do mundo. No anseio de construir mais M2 em uma região com área limitada, o mercado se desenvolve pela guerra na altura dos empreendimentos. Nesse caso, surge uma questão fundamental: como funciona a fundação de um edifício de 150 pavimentos?
Tendo como exemplo o estudo de caso do Senna tower, o maior edifício residencial do mundo com mais de 500 m de altura, o objetivo desse artigo é desenvolver sobre como funciona a fundação de grandes empreendimentos e quais aprendizados podem ser extraídos para sua obra.
Alguns mitos sobre construção na praia
Construir na areia não é (necessariamente) mais difícil que construir em uma cidade. Não é a granulometria do solo que define a sua complexidade (areia, silte ou argila), mas a sua capacidade de resistência a compressão, resistência lateral e resistência de ponta, parâmetros que são utilizados no cálculo de fundações.
E geotecnia não é um cálculo exato. Ao contrário do cálculo estrutural, o estudo geotécnico no Brasil ainda é muito rudimentar e a fundação normalmente é estabelecida pelo conservadorismo. Isso decorre (1) de uma cultura ainda não difundida de elaborar ensaios conforme a norma e (2) a falta de previsibilidade do comportamento de solos.
Quais são os métodos são utilizados?
Devido ao peso da estrutura e lençol freático muito próximo a superfície, as alternativas de fundação acabam sendo limitadas. Na grande maioria dos casos, as construtoras acabam recorrendo a hélice contínua, uma execução em que é executado a perfuração do solo, retirada do material e injeção de concreto por um mesmo equipamento. Dessa forma, é possível executar fundações abaixo do nível da água, mesmo que seja necessário um concreto mais resistente, fluído (slump) e caro do que o convencional. A armadura é adicionada, portanto, logo após a concretagem.
Para garantir maior estabilidade da estrutura, e evitar acontecimentos como a ocorrência na região de Santos, as estacas são executadas até a camada rochosa, normalmente encontrada por volta de 40 m da superfície.
Quais os aprendizados do Senna Tower?
Para estruturas com uma carga tão significativa, o número de estacas acaba sendo tão grande que existe apenas um bloco de coroamento, abrangendo toda a área do edifício. Nesse caso, é empregado metodologias como nitrogênio líquido e gelo, para evitar retração e surgimento de fissuras decorrente da hidratação do material, cuja temperatura pode atingir os 70º celsius. Em diversos casos, o bloco acima de 500 M3 já foram executados. Para um dos maiores edificios residenciais do mundo, todavia, essa concretagem pode superar 1.000 caminhões de concreto, o equivalente a 7.000 M3.
Todavia, um dos maiores aprendizados dessa estrutura não está no seu dimensionamento, mas no ensaio geotécnico. O Senna Tower está atualmente executando um ensaio de prova de carga, uma prática normalmente efetuada para conferência, ao invés do seu dimensionamento. Foram executadas 17 estacas com um pré-dimensionamento, que serão testadas com o dobro da carga do edifício. Como resultado, por norma, o fator de segurança para cálculo da fundação é 30% menor (de 3 para 2), resultando em alguns milhões de economia.
E o aprendizado disso é claro: quem investe em estudo e ensaio geotécnico, economiza na fundação e estrutura de uma edificação.