100% mais resistência à tração. 75% menos pesado. E, além de tudo isso, mais econômico. Essa é a promessa por trás do desenvolvimento de Fibra de Vidro (PRFV), como potencial substituto ao aço no concreto armado. E a partir do aumento contínuo e acelerado do preço da armadura, essa pauta ganhou ainda mais escala.
Com isso, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) estuda uma regulação brasileira, em complemento a norma internacional. Todavia, esse ainda não é um consenso entre especialistas.
Afinal, qual a distância real para uma aplicação consistente no Brasil? Quais normas fundamentam o dimensionamento atual? E quais as dificuldades envolvidas na normatização?
O que é a Fibra de Vidro (PRFV)?
A Fibra de Vidro, ou Plástico Reforçado com Fibras de Vidro (PRFV), é um compósito composto por fibras de vidro, geralmente fabricadas a partir de sílica fundida, e polímeros termofixos, como resina de poliéster ou epóxi. As fibras são produzidas a partir de filamentos finos e alongados, criados por meio de um processo de estiramento ou filamento contínuo. Então, são envolvidas e impregnadas com a resina termofixa em um processo conhecido como laminação.
O resultado é um material reconhecido por sua leveza, alta resistência, durabilidade e flexibilidade na moldagem.
Quais as vantagens?
• Alta resistência mecânica à tração, superior ao aço, com possibilidade de suportas duas vezes mais carga para a mesma bitola.
• Em média, densidade 75% inferior ao seu concorrente, o que possibilita dimensionamento mais esbeltos e com menos carga.
• Economia em relação ao concreto armado (sem dados consistentes para aproximar valores).
• Resistência química e a agentes agressivos (sem corrosão e mais durabilidade).
• Boa resistência a impacto e temperatura.
• Baixa absorção de água.
• Estabilidade magnética (uso militar).
Além das características ilustradas nesse bloco, as Fibras de Vidro possuem aplicação como microfibras, a fim de reduzir a suscetibilidade a fissuras e otimizar a resistência à abrasão.
Quais as dificuldades?
Existem uma infinidade de fatores responsáveis pela popularidade do concreto armado convencional. Entre eles, compatibilidade dos módulos de elasticidades, coeficientes de dilatação e aderência entre os materiais envolvidos. Por isso, um estudo para substituir um dos principais compósitos dentro da construção não é simples e, muito menos, um consenso entre os especialistas.
Nesse cenário, as principais preocupações envolvendo a sua aplicabilidade são:
• Ruptura frágil: Ao contrário do aço, cuja ruptura ocorre durante o regime de escoamento, para fibra de vidro, isso ocorre durante o regime elástico. Isso significa que não há “avisos” ou deformação excessiva antes do desabamento do edifício e, portanto, é necessário um cálculo mais conservador.
• Módulo de elasticidade: Como o módulo de elasticidade é cerca de 25% inferior, para uma mesma carga, a Fibra de Vidro deforma mais que a armadura convencional. Por isso, estruturas com PRFV são mais suscetíveis a surgir fissuras.
• Aderência e deformação específica: A aderência entre a fibra e a pasta está ainda a ser estudada. Além disso, como a deformação não é semelhante, torna mais provável a incompatibilidade entre os materiais.
Conforme ilustrado anteriormente, esses itens refletem apenas os principais fatores de discussão, e não toda discussão.
Como aplicar?
Na fase atual, a ABNT não possui uma norma que regulamenta o dimensionamento de estruturas utilizando PRFV, como a ABNT NBR 6118 para o concreto armado. Portanto, a única alternativa (enquanto não finalizam a regulamentação) é aplicar conforme a norma internacional ACI 440.
Segundo algumas iniciativas brasileiras, com rompimento de corpos de prova em laboratórios, desde que aplicados os devidos coeficientes de redução, a norma atinge resultados satisfatórios (IBRACON, 2021).
Todavia, vale ressaltar que a sua aplicação ainda é restrita e carecem dados no Brasil. Até hoje, o maior edifício construído em fibra de vidro tem cerca de 15 m de altura. Portanto, apesar de possuir respaldo jurídico, a fibra de vidro ainda está limitada ainda a projetos de menores dimensões.